Obras digitais
20.01.22
Milissegundos nos trapos de mundo

Sorry, this entry is only available in Português do Brasil.

A obra Milissegundos nos Trapos de Mundo é uma proposta de longa duração concebida por Ana Raylander Mártis dos Anjos e contou com a colaboração das artistas Barbye Pereira, Cacau Apollino, Larissa Telles e Odara Soares. Apresentada no formato de transmissão ao vivo no site de Frestas – Trienal de Artes, a obra consiste em duas peças videográficas com a duração de 16 horas cada.

No primeiro vídeo, vemos a ação de descoser, transformando em trapos, um vestido de quinceañera, que viajou do México para o Brasil ao encontro da artista. No segundo vídeo, vemos a mesma ação sendo reproduzida de trás para a frente, tendo como resultado o inverso, isto é, o vestido de quinceañera intacto. Esse vestido conecta a artista Lia García (México), que o possuía, a Ana Raylander (Brasil), que o recebeu.

Milissegundo (ms) é uma unidade de medida de tempo que faz parte do sistema internacional de unidades (SI), assim como o segundo (s). Essa unidade corresponde a 10-3 segundos, ou seja, um milésimo de segundo. Ela pode aparecer como medida cronológica em diversos contextos, como em dados transmitidos pela internet ou na ciência, no esporte ou na fotografia. Neste trabalho, interessa à artista manipular essa unidade de tempo como um dispositivo de precisão para aferir o instante decisivo de uma vida trans em circuitos violentos, como o Brasil.

Contabilizando em uma unidade menor do que o segundo, Ana Raylander tenta evidenciar as estatísticas e políticas de extermínio contra as pessoas trans e travestis em países do sul global. Ao passo que esse arranjo visceral mobiliza e impregna o trabalho, ela busca um tempo dilatado para um encontro de qualidade com as artistas colaboradoras. Como uma forma de materializar o trabalho em alicerces como os da escuta e do acolhimento, o grupo, que participa da ação, encontra espaço para uma conversa descontraída e informal. Uma coralidade entre travestis e mulheres trans racializadas da cidade de Sorocaba se forma.

“Trapos de mundo” é uma definição que a artista vem mobilizando para compreender e nomear a herança colonial deixada para os povos do sul global. Partindo do pressuposto de que o mundo já foi destruído e desencantado, estando em trapos, assim como o vestido ao fim da ação, Ana busca especular modos de juntar os fios soltos do planeta, devolvendo o encantamento e a vida nos momentos de entrega, como no encontro com o grupo em Milissegundos nos Trapos de Mundo.


MILISSEGUNDOS NOS TRAPOS DE MUNDO, 2021
Ana Raylander Mártis dos Anjos
vídeos – cor e som, 16 horas cada

 

Artistas colaboradoras:
Barbye Pereira, Cacau Apollino, Larissa Telles e Odara Soares

Equipe de produção:
Direção de produção: Ana Helena Curti
Produção executiva: João Simões e Samantha Alves

Equipe de audiovisual:
Produção executiva: Laura Crepaldi
Primeiro assistente de direção: Gabrelú
Primeiro assistente de direção em set: Rafa Ferraz
Direção de produção: Brandini
Assistente de produção: Marte
Direção de fotografia: Giulia Baptistella
Assistente de fotografia: Juliana Alves
Técnico de som: Marcel Marques
Montagem: Jan

Notes

* A obra se integra ao projeto ¿Quién llorará por las travestis?, da artista Lia García (La Novia Sirena), que compõe um ciclo com três atividades, sendo as outras a performance Dançar sobre as Feridas, de Lia García (La Novia Sirena), e a conversa on-line “Sua dor é minha dor: políticas do afeto, pele de travesti e rituais de resistência na pedagogia e na arte”, com as artistas citadas, mediada pela pesquisadora Maria Clara Araújo.

Go back