Oficinas com as escolas estaduais e municipais, que aconteceram de 3 a 18 de novembro de 2021, compondo a Trienal de Artes. A coletivA ocupação trouxe jogos teatrais e de criação para que pudéssemos dançar e cantar, denunciar e registrar com o corpo as necessidades e os desejos para o fim do mundo.
Nós nos encontramos com pessoas diversas e nos conectamos via Google Meet, plataforma digital na qual estamos usando como ferramenta de trabalho desde o início da pandemia, ainda que com muitas limitações, conseguimos ter realmente uma conversa pela tela e por nossos ouvidos. Tivemos a primeira impressão quando chegamos na sala e era uma biblioteca de alguma escola, com as mesas redondas e grandes, cadeiras pretas, a maioria das pessoas com a mochila nas costas ainda… Pedimos para que se levantassem, que tirassem a mochila e relaxassem; após isso, fomos nos encontrando até 18 de novembro, com mais outras seis escolas, com salas quase vazias, pois as aulas voltaram precocemente, mesmo sabendo do surto iminente do Sars-CoV-2 (coronavírus) e de suas variantes. Entramos com medo e receio da mesma fonte que tivemos de ensino durante 12 anos de escola, e conseguimos adquirir experiências para trocar, no meio do teatro, da sala de vídeo, da biblioteca, dos pátios… Foi criado um entendimento do que eram as escolas e as ruas, e passar isso pela tela e nos exercícios, de forma dançante e expressiva, nos aproximou mais e mais uns dos outros.
Fizemos exercícios que aprendemos no processo de criação do “Quando Quebra Queima”, na Casa do Povo, quando ainda era “só me convidem para uma revolução onde eu possa dançar”, que fez parte de um festival chamado Performando Oposições, que falava sobre lutas, insurreições e revoltas de marginais e renegados da nação. Tinha a ver com se conectar com a terra, com as profundezas dos oceanos, com as correntezas dos rios, com as florestas e se conectar com a escola ao mesmo tempo, tendo noção do que nos separa de vivências totalmente diferentes e onde achamos a solução para equilibrar nosso encontro. Foram momentos nos quais tínhamos total liberdade de conhecer e poder tocar nossos cabelos, falar com e sobre eles, ter uma leve procura para entender essas nossas raízes, nossos fios, nossas cores, nossa cabeça, o Ôrí e o Ôgí, entender que cada traço nosso é um planeta, um multiverso de várias outras poeiras.
Conseguimos nos conectar com o chão. Sempre tínhamos vontade de descer juntas ao chão, descer e conectar nossos dedos e as mãos inteiras na terra, no chão, no asfalto. Para começar a correr muito rapidamente, sempre é preciso colocar as mãos no chão e flexionar os joelhos, inclinando a bunda para cima. Assim, fundamentamos a base para nos mantermos de pé e nos desequilibramos e nos equilibrarmos em diferentes ângulos e posições.
Respiração é a palavra certa para estes dias, porque estávamos em climas meio conturbados, com a baixa umidade ou ar limpo; com baixa estabilidade, precisávamos respirar mais ainda; os exercícios deviam ser leves e não nos cansar muito.
Optamos por uma respiração pensando nos lugares doloridos e para que tenhamos muito cuidado na hora de alongar e massagear, ligar o corpo com uma bela chacoalhada, amassar os dedos nas mãos, nos pés, nas pernas, na barriga, na bunda, nos braços, na cabeça, nas orelhas, na nuca, no pescoço. Todas as partes do corpo precisam estar amaciadas e bem aquecidas, para o sangue circular. Para, na hora de pular, correr, dançar ou querer respirar da próxima vez, se sentir quente, ferver o corpe.
Movimentos circulares, vórtex, buracos de minhoca e buracos negros, nós nos conectamos, andando e girando, emergindo nos espaços que nos foram destinados por ora. Temos, ali, conexões como num formigueiro, que se expressa e organiza para ter comida no inverno. Tínhamos a missão de trocar teatro com eles e traçar caminhos numa sala e em várias telas, sempre nesses movimentos circulares e discretos, tímidos e sinceros muitas vezes, sinônimos de provocações e brincadeiras, entendimentos e questionamentos, conversas e risos, danças e corridas, pulos e abaixamentos. Dias frios, conexões de blusas e meias duplas, caminhar até em casa, caminhar para a escola, caminhar até a sala, caminhar até o computador, estar andando nessa cidade, procurando entender os movimentos das pessoas nas ruas, nos trens, no busão, nas feiras, nas festas que estão acontecendo por aí, nos ensaios da vida e do teatro, da cena do Sol. Não consigo pensar mais, estou com uns impasses na mente nestes dias e está difícil memorizar e lembrar algumas coisas. Fico com essas palavras e com essas descrições, juntamente com outras versões, caso eu vagamente vá me lembrando.
Relatos “Memórias e visões, lembranças e ideias”, de Alvim Almeida Silva Junior, ator, performer e arte-educador da coletivA ocupação.
5 de dezembro de 2021, 15h15